terça-feira, agosto 22, 2006

Bolonha traz trabalho duro: Alunos obrigados a encarar estudo de outra maneira

Os cursos piloto de Bolonha já deram para os estudantes compreenderem. O Ensino Superior vai exigir muito mais. É mesmo trabalho e duro, com a generalização da avaliação contínua e a passagem ao sistema de créditos calculados a partir de uma unidade europeia que faz corresponder um crédito a 28 horas de trabalho do aluno. Como se pode calcular, a 180 créditos por curso, o ano lectivo terá 40 semanas, com 42 horas de trabalho semanais. É isto que espera os novos alunos do Ensino Superior.

Para os que entendiam os cursos superiores como tarefa a realizar com muita boémia e algumas noites de ‘marranço’ nas alturas dos períodos de avaliação e exames, a realidade vai ser completamente ao contrário. Os novos cursos envolvem avaliação contínua e trabalho regular. É outra mentalidade que apenas se tinha imposto em cursos de aprendizagem muito intensa como as medicinas e as engenharias.

MAIS CONTACTO

A universidade constituiu durante dezenas de anos uma surpresa de independência no estudo que remeteu ao insucesso muitos alunos. O acompanhamento dos professores era distante e deixava toda a liberdade, ao contrário do que acontece no Secundário. Também acontecia que as cadeiras dos primeiros anos eram muitas vezes entregues à responsabilidade de professores mais jovens e de menos prestígio académico.

Tudo isto vai mudar com o novo paradigma de aprendizagem em que os alunos vão ter de compreender que estudar é trabalhar e em que a actividade docente aposta em maior qualidade e os professores assumem uma responsabilidade de maior contacto com os alunos e o objectivo de contagiá-los com a paixão pelo alargar dos conhecimentos.

Da parte dos professores e responsáveis há um grande optimismo nos resultados de um contacto mais próximo com os alunos e o trabalho contínuo.

Passos interessantes nestes aspectos têm sido dados ao longo dos anos, em que se procurou de diversas formas a integração mais rápida dos novos alunos. Após a divisão dos anos lectivos em semestres, apostou-se também em provas de avaliação o mais cedo possível, chamando muito depressa os novos alunos às realidades e dificuldades do Ensino Superior.

ANO I DE BOLONHA

As universidades portuguesas têm dois anos, até 2008/09, para completar a transição para Bolonha. Apesar da aceleração do processo haverá novos alunos que iniciarão os seus cursos com currículos à antiga, mas nos já adaptados a Bolonha os que não estejam aptos para passar ao 2.º Ano vão de imediato transitar para o novo currículo, por créditos.

O salto para a qualidade e a harmonização com o resto da Europa. Só a moeda única, o euro, provocou mudança mais rápida.

UNIVERSIDADE APONTA ATÉ OITO SEMESTRES

Nas universidades, o ciclo de estudos conducente ao grau de licenciado tem 180 a 240 créditos e uma duração normal compreendida entre seis e oito semestres curriculares de trabalho, segundo as novas disposições da lei a seguir por todas as instituições deste tipo de ensino superior.

Os estudantes que entrarem nos cursos Bolonha já prontos a funcionar no ano lectivo 2006/07 terão o seu diploma de licenciatura em apenas três anos de aprendizagem bem sucedida, considerando--se com essa base aptos a iniciar uma carreira profissional.

O chamado primeiro ciclo de estudos não dará, porém, o tradicional diploma para início de carreira em cursos como Medicina, Medicina Dentária, Arquitectura e outros desde Direito a Engenharia que são de mestrado integrado, isto é, exigem o completar do segundo ciclo de estudos. Mantém-se nesses casos a extensão dos actuais cinco anos dos cursos. Decorre, por outro lado, nas faculdades a discussão dos planos de transição a aplicar aos alunos dos cursos antigos.

POLITÉCNICO: DIPLOMA COM 180 CRÉDITOS

Excepto nos casos em que o acesso ao exercício de determinada actividade profissional exija por normas jurídicas expressas, nacionais ou da União Europeia requisitos de natureza excepcional, o ciclo de estudos no ensino politécnico está limitado a 180 créditos e uma duração normal de seis semestres curriculares de trabalho.

Está também definido que as licenciaturas dos politécnicos devem valorizar especialmente a formação com vista a uma actividade de carácter profissional, assegurando aos estudantes uma componente de aplicação dos conhecimentos e saberes adquiridos às actividades concretas do respectivo perfil profissional, associada a um estágio profissional.

De resto, o grau de licenciado, no politécnico como no universitário, exige, por lei, sempre “a capacidade de resolução de problemas no âmbito da sua área de formação e de construção e fundamentação da sua própria argumentação”, além de “competências que permitam uma aprendizagem ao longo da vida com elevado grau de autonomia”.

PONTOS SENSÍVEIS

ACORDAR TRANSIÇÃO

O envolvimento dos alunos é uma aposta decisiva no processo de transição para os cursos com currículos de Bolonha e tem sido respeitado.

HORAS DE TRABALHO

O cálculo da carga de estudo por hora de trabalho vai ser feito com a participação dos estudantes nas várias faculdades.

DIPLOMA EM TRÊS ANOS

As faculdades estão a encarar a possibilidade de atribuir diplomas após três anos de sucesso escolar em 2007/08.

PROMESSAS DO MINISTRO

1 - Tornar obrigatória a recolha e divulgação de informação sobre o emprego dos diplomados por cada instituição de Ensino Superior público.

2 - Racionalizar a oferta de cursos do superior, num processo participado pelas próprias instituições e entidades relevantes da vida económica e social.

3 - Avaliar as prioridades de todos os projectos existentes sempre que houver investimentos em novas construções no Ensino Superior.

4 - Rever e reformar os actuais regimes de acesso especial ao Ensino Superior cuja excepcionalidade tende a ser encarada como fonte de injustiças.

5 - Reformar os modelos jurídico e organizativo do Ensino Superior para maior autonomia, responsabilidade e diferenciação dos cursos.

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