terça-feira, abril 18, 2006

A vida de um profissional de RP



Ser relações públicas em Portugal não é fácil. No entanto, ser vendedor, polícia ou até político, também não o são. Como profissional optimista que sou, acredito fortemente que no futuro próximo a actividade de RP irá ser mais bem compreendida pelos outros e acima de tudo mais valorizada e reconhecida. Estes sinais são dados por exemplo pelo número de anúncios nos jornais que pedem técnicos de comunicação. São cada vez em maior número e surgem nas mais diversas áreas de negócios.

No entanto, com a proliferação de cursos superiores em relações públicas e com a invasão de profissionais de outras áreas (jornalismo, publicidade, técnicos de turismo, etc), exigem-se cada vez mais recém-licenciados em RP competentes. Na minha opinião estes técnicos terão de cumprir o que eu apelido de eixo ERIC, ou seja, Estratégicos, Rigorosos, Inovadores e Conhecedores. Os tempos de hoje exigem profissionais altamente qualificados, proactivos e focados nos objectivos das empresas para que estas alcancem resultados positivos e consistentes. O modelo de relações públicas agarrado ao telefone horas e horas com conversas fúteis e pouco profícuas pertence ao passado.

Mas ser um bom RP (neste caso numa agência de comunicação) é também saber dizer não ao cliente, quando este está errado e transmitir-lhe o caminho correcto que deverá ser seguido. Na maior parte das vezes, os clientes, dado o seu perfil demasiadamente focado nas vendas, não entendem o papel da comunicação nem o papel dos jornalistas, dizendo por isso tremendos disparates. Eis alguns exemplos:

- "Quantos jornalistas vamos ter na conferência de imprensa daqui a 3 dias?";
- "Eles não podem enviar os textos antes de serem publicados para nós revermos?";
- A uma hora do início da conferência de imprensa: "Soubemos agora que o nosso Director-Geral estará presente. Faça lá um forcing junto dos meios!";
- "Então e amanhã no evento temos televisões? E o Expresso?".

Para os clientes as suas iniciativas são sempre fantásticas e marcam sempre a agenda mediática nesse dia. Mesmo que o público-alvo não sejam os leitores do jornal Expresso ou Visão, eles gostam de ter notícias nestes meios. São considerados os órgãos de comunicação ideiais. Quero com isto dizer que tomam decisões em função de gostos pessoais e não em função da estratégia da empresa.

É assim importante, que os jovens recém-licenciados encarem o mundo de trabalho como uma guerra, onde a perseverança e o empenho são importantes armas para vencer. Se perdemos uma luta, haveremos de ganhar muitas outras. Não existe lugar para derrotados. Se gostamos daquilo para o qual estudámos durante diversos anos, não podemos desistir só porque enviámos 30 CVs e não houve feedback de nenhum. Devemos antes analisar o que podemos melhorar no nosso CV para causar um maior impacto junto dos destinatários. Estas situações por vezes até são bem positivas, pois fazem-nos reflectir sobre o nosso trabalho e com isso melhorar a nossa performance.


Por último, uma nota final muito positiva a este núcleo de comunicação e relações públicas. É sem dúvida, muito importante a criação deste tipo de estruturas dentro das universidades para estimular o interesse dos alunos pela área profissional. São projectos extremamente interessantes, pois permitem cruzar experiências e conhecimentos entre o meio universitário e o meio profissional, criando uma dinâmica tremendamente saudável. Sem hesitações, dou nota 20!


Renato Póvoas

Consultor de Comunicação e autor do blog Relações Públicas Sem Croquete

Sem comentários: